Outras Perturbações do Sono nas Crianças

Já falamos de sono, dos padrões de sono ditos normais assim como dos cuidados antecipatórios a ter para conseguir uma boa qualidade de sono. Mas a verdade é que nem sempre o conseguimos e, quando tal acontece, as consequências para o nosso organismo são imensas:

  • Sonolência diurna
  • Hiperactividade e impulsividade
  • Comportamentos de inatenção e oposição
  • Perturbações do humor e afectos
  • Dificuldades de aprendizagem
  • Uso de estimulantes, álcool, drogas
  • Comportamentos de risco
  • Efeitos negativos cardiovasculares, imunes e metabólicos

Pela importância de que se revestem, hoje vamos falar um pouco sobre perturbações de sono que podem afetar as nossas crianças e adolescentes.

  1. INSÓNIAS

¼ das crianças entre 1-5 anos têm dificuldades a adormecer e/ou despertares noturnos. Embora na maioria dos casos sejam um problema transitório, muitas vezes associado a momentos críticos do seu desenvolvimento, podem persistir até à adolescência.

Existem diversos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de insónias, variáveis consoante a idade.

Nos primeiros anos de vida podem associar-se a má higiene do sono, a doenças orgâncias mas surgem sobretudo no contexto de alterações comportamentais como p.ex. mudança de quarto, casa ou colégio, na família ou situações de doença e morte.

Na adolescência, as insónias associam-se a sonolência excessiva diurna, e apesar de predominarem nas meninas, têm muitos outros fatores subjacentes: problemas médicos ou psicológicos, atraso de fase (produzem a melatonina 2h mais tarde que o habitual), horários de sono irregulares, uso de bebidas estimulantes, uso de equipamento electrónico, pressão familiar, social e/ou escolar. O importante é estar atento e tentar corrigir/minimizar esses fatores! Nos casos em que dificulte a rotina familiar ou tenha repercussões no sucesso da criança/adolescente, deve ser pedida ajuda ao médico assistente.

  • PESADELOS

Os sonhos acontecem na fase REM do sono, 4 a 5 vezes em cada noite, sendo varáveis consoante a pessoa, o que se passou durante o dia e a fase de desenvolvimento em que se está. Aos sonhos aterradores chamamos de pesadelos. A “idade dos pesadelos”, se é que se pode definir alguma, começa por volta dos 3 anos, coincidente com a fase em que a fantasia é mais intensa, e prolonga-se até aos 10 anos. Ao contrário dos terrores noturnos, nos pesadelos a criança acorda mesmo e diz aos pais que “teve um sonho mau”, conseguindo recontá-lo no dia seguinte. Perante os pesadelos os truques e dicas são os mesmos que dei para os terrores noturnos. Mas atenção, todos temos pesadelos. A questão é quando estes se tornam rotina, persistentes e exuberantes, não respondendo às medidas comportamentais. Nesse caso traduzem que a criança/adolescente não está bem, sendo necessário procurar ajuda com o médico assistente.

  • SONAMBULISMO

Quando se sonha, o corpo imobiliza-se, caso contrário viveríamos os sonhos. Nalgumas crianças, os mecanismos de imobilização não estão completamente desenvolvidos, pelo que “vivem” o sonho: deambulam pela casa, com a perceção instintiva e o alerta necessário para não ir de encontro às coisas, mas podendo, p.ex. abrir a porta e sair. Surgem tipicamente a partir dos 4 anos, sendo mais comuns entre os 8 e os 12 anos.

Cuidados a ter, para reduzir o risco de acidente:

  • Colocar luzes de presença nas várias divisões;
  • Proteger as escadas;
  • No caso da cama ser um beliche, a criança deve dormir sempre na cama de baixo;
  • Trancar as portas da casa de banho e da cozinha, bem como as que dão para o exterior.

Quando se aperceber de um episódio de sonambulismo, vá ter com o seu filho, não o acorde e encaminhe-o calmamente para a cama, orientando o percurso, dizendo um mínimo de palavras com voz suave e carinhosa. Na maioria dos casos, o sonambulismo passa com a idade. É importante identificar evetuais fatores desencadeantes e tentar uma boa higiene de sono. Nos casos em que vá agravando ou persista, deve entrar em contato com o médico assisstente.

  • Distúrbios Rítmicos do Sono

Os distúrbios rítmicos do sono assustam os pais porque podem simular convulsões. Na maioria das crianças, a crise manifesta-se como movimentos rítmicos e repetitivos, que acontecem ao adormecer ou durante os microdespertares do sono, cuja duração e intensidade são muito variáveis. Podem ser movimentos contínuos da cabeça para a frente e para trás (headbanging), para um lado e para o outro (headrolling) ou até de outras partes do corpo (bodyrocking). 90% dos casos são alterações perfeitamente benignas do sono, sem necessidade de qualquer abordagem ou vigilância, que desaparecem até aos 4 anos. Quando persistem para além desta idade ou se associam a alterações do desenvolvimento ou comportamento da criança, deve entrar em contato com o médico assisstente. Filmar os episódios pode ser muito útil para os melhor perceber e caraterizar!

  • BRUXISMO

Bruxismo é o nome médico do vulgar ranger dos dentes durante o sono. Tem inúmeros fatores associados entre os quais alterações do alinhamento dentário, da mandíbula, situações de medo/ansiedade e parasitoses intestinais. Na maioria dos casos é benigno, resolve com a idade e não deixa sequelas em termos de desenvolvimento. Se persistente ou grave pode ser necessário um acompanhamento mais específico, pelo médico assistente, psicólogo ou dentista.

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