Sou bebé: deixem que me mova, por favor!

O que é a Síndrome do Bebé Retido?

Um bebé “retido” é um bebé que passa muito tempo em espreguiçadeiras, carrinhos de bebé, “ovinho”, alcofa, ninho, almofadas de amamentação, cadeiras de alimentação, ou outros. Na verdade, container baby syndrome é o termo usado para descrever um conjunto de alterações observadas em bebés que passam demasiado tempo nestes equipamentos e que os poderão levar a ter problemas ao nível da moldagem do crânio, atrasos na aquisição das etapas normais do desenvolvimento sensório motor e, não raras vezes, a necessitar de fisioterapia.

Embora estes equipamentos sejam usados para manter o bebé seguro, permitam aos pais um transporte mais fácil, e possam dar ao bebé a possibilidade de brincar, atuam como um “contentor” deixando o bebé sempre na posição de barriga para cima ou semi- sentados, limitando a sua mobilidade. Passar demasiado tempo nesta posição, passar de um equipamento para outro, impede o bebé de levantar e virar a cabeça, de rolar, de usar as mãos para se apoiar, ou seja, de se mover como um bebé deve fazer para desenvolver a força e coordenação necessárias para aprender novas habilidades, como rolar, rastejar, gatinhar, ajoelhar-se, sentar-se e, depois, pôr-se de pé e andar.

Quais as complicações associadas à Síndrome do Bebé Retido?

Quando a criança já tem algum risco de atraso no desenvolvimento devido à prematuridade, síndrome de Down ou outras patologias, o uso excessivo destes equipamentos pode ter ainda um maior impacto nesse atraso.

Se o bebé/criança for mantido nestes equipamentos durante demasiado tempo ao longo de dias e semanas, sempre de barriga para cima, isso pode eventualmente causar alguns problemas, tais como:

  • Plagiocefalia ou Braquicefalia: achatamento de um dos lados ou da parte de trás da cabeça.
  • Assimetria facial.
  • Torcicolo: o bebé tem dificuldade em virar a cabeça para um dos lados e/ou mantém uma inclinação para um dos lados.
  • Atrasos no desenvolvimento sensório motor.
  • Problemas ao nível da fala, visão, audição e cognição.
  • Obesidade.

Como surgiu e evoluiu a Síndrome do Bebé Retido?

Na década de 1990, as Associações Mundiais de Pediatria, como prevenção da síndrome da morte súbita infantil (SMSI), passaram a recomendar que os bebés, para dormir, não fossem deitados de barriga para baixo e sim de barriga para cima.

Embora a incidência de morte súbita tenha diminuído em cerca de 50% desde estas recomendações, alguns investigadores referem uma subida de 600% na incidência da Síndrome do Bebé Retido entre 1990 e 2008. De fato, desde os anos 90 que aumentou consideravelmente o número de crianças com atraso no desenvolvimento, associados ao facto de passarem a maior parte do tempo de barriga para cima e não de barriga para baixo (tummy time).

Muitos pais levaram à letra a recomendação de não colocar os bebés de barriga para baixo e passaram a colocá-los sempre de barriga para cima, mesmo quando acordados, julgando ser essa a posição preferencial e mais segura para colocar o bebé durante o dia.

Os bebés que passam o dia nestes equipamentos, ficam infelizes e choram quando são retirados e colocados de barriga para baixo, o que leva por vezes os pais a pensar que essa não é uma boa posição para o bebé.

No entanto, ESTAR DE BARRIGA PARA BAIXO, sempre acordado e vigiado, é essencial para um desenvolvimento motor apropriado. O bebé chora porque essa posição lhe exige esforço para apoiar os braços e levantar a cabeça e porque não foi habituado a fazê-lo. Se o bebé for colocado nessa posição desde o nascimento, ele não irá chorar.

Estar de barriga para baixo promove e mantem uma forma simétrica do crânio, estimula os músculos do pescoço, tronco e braços, estimula a coordenação, o desenvolvimento visual, a orientação espacial e diminui a incidência de obesidade.

Como pode o Fisioterapeuta ajudar?

Logo que sejam detetados pela família alguns sinais de SBR, tais como achatamento da cabeça, dificuldade em virar a cabeça para um dos lados, não levantar a cabeça quando colocado de barriga para baixo (se tiver mais de 2 meses) ou mover-se pouco, deve procurar um Fisioterapeuta Pediátrico o mais precocemente possível, de forma a prevenir e corrigir alguns problemas causados pela SBR e assim evitar consequências a longo prazo.

Conselhos do Fisioterapeuta:

  • Limite o tempo que o bebé passa no ovinho ou carrinho de transporte, para apenas quando é necessário transportá-lo para qualquer lado.
  • Aumente o tempo em que o bebé está de barriga para baixo, quando acordado (sempre vigiado). Pode começar logo após o nascimento, aproveitando para o fazer quando muda a fralda e vai aumentando o tempo à medida que o bebé cresce, até 5 vezes por dia, 5 minutos de cada vez (A OMS recomenda 30 minutos por dia). Nesta posição, estimule o bebé através do toque, fale com ele e cante.
  • Transporte o seu bebé ao colo ou num porta-bebés por alguns períodos do dia, em vez de o colocar na espreguiçadeira ou outro equipamento. Faça caminhadas com o bebé, dance com ele, ofereça-lhe experiências de movimento.
  • Deixe o bebé brincar livremente num parque.
  • Permita, sempre com supervisão de um adulto, que o seu bebé brinque frequentemente sobre um tapete, no chão, de barriga para baixo ou de barriga para cima, mas fora de qualquer equipamento. Permita que ele role, rasteje e se mova livremente.

LEMBRE-SE

DORMIR DE BARRIGA PARA CIMA,

BRINCAR DE BARRIGA PARA BAIXO.

E

DEIXE QUE O BEBÉ

SE MOVA MUITO!

by Fátima Pereira, Fisioterapeuta

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