O MEU BEBÉ TEM A CABEÇA ACHATADA! O QUE FAZER?

A plagiocefalia posicional (PP) ou plagiocefalia deformacional tem constituído uma condição cada vez mais comum na população pediátrica, um motivo de preocupação por parte dos pais e levado a uma maior procura dos serviços de saúde.

A prevalência de PP aumentou a partir da década de 90, segundo alguns autores, devido em grande parte à recomendação das Associações Mundiais de Pediatria, para deitar os bebés de barriga para cima (decúbito dorsal), de modo a prevenir a Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI). Este facto embora tenha levado a uma diminuição da incidência de SMSI, fez com que houvesse uma subida de casos de plagiocefalia, uma vez que os pais passaram a não colocar os bebés de barriga para baixo, nem mesmo quando acordados.

PLAGIOCEFALIA, O QUE É?

Plagiocefalia é um termo usado para designar uma assimetria craniana, onde existe achatamento de um dos lados da cabeça do bebé (geralmente a região lateral e/ou posterior do crânio), com proeminência na região anterior frontal do mesmo lado, dando um aspeto de “crânio oblíquo”. Nos casos mais graves poderão existir alterações a nível da face (um olho mais encerrado, maxilar assimétrico, entre outros).

CAUSAS DA PLAGIOCEFALIA

O crânio de um lactente é flexível e pouco rígido. Esta flexibilidade, necessária durante o parto de forma a permitir a passagem da cabeça do bebé pelo canal do parto, faz com que se possa deformar facilmente, quando sujeito a pressões exteriores. Estas pressões podem ocorrer na fase pré-natal (devido ao posicionamento no útero durante a gestação), durante o parto (um parto difícil com, por exemplo, o uso de fórceps ou ventosa) ou pós-natal (devido ao excesso de tempo passado de barriga para cima, com a cabeça na mesma posição).

Existem diversos fatores de risco que poderão aumentar a prevalência de plagiocefalia: o bebé ser do sexo masculino, a prematuridade, o tipo de parto, a existência de malformações, o peso do bebé e os partos gemelares, entre outros.

No entanto, os três principais fatores que contribuem para a ocorrência de PP são:

  1. Excesso de tempo passado de barriga para cima, quer a dormir, quer em equipamentos que “retêm” o bebé (ler artigo “Sou bebé – deixem que me mova por favor”, publicado neste blog), tais como espreguiçadeiras, ovinhos, alcofas, etc. Se o bebé tiver uma posição preferencial da cabeça e for colocado sempre de barriga para cima sem possibilidade de se mover, a pressão constante e mantida do crânio sobre a superfície, poderá levar a uma assimetria do crescimento da cabeça, levando ao achatamento.
  2. Torcicolo ou posição preferencial da cabeça. O torcicolo consiste num encurtamento do músculo esternocleidomastóideo que se traduz por uma inclinação (orelha mais próxima do ombro) para o lado do músculo afetado e rotação (queixo virado na direção do ombro) para o lado oposto, fazendo com que haja dificuldade em movimentar a cabeça no sentido contrário.  Esta limitação da mobilidade do pescoço e uma posição mantida, induz uma pressão constante nos ossos póstero-laterais do crânio do lado da rotação, podendo levar à plagiocefalia.
  3. Falta de atividade do bebé – bebés que se movem pouco. Se o bebé for pouco estimulado ou for um bebé que se move menos (bebés “preguiçosos”), isso fará com que não mude de posição, podendo mais facilmente desenvolver plagiocefalia.

COMO SEI SE O MEU BEBÉ TEM PLAGIOCEFALIA?

Para verificar se o bebé tem plagiocefalia, pode começar por observar-se a cabeça pelo topo.

O seu bebé pode ter plagiocefalia se apresentar as seguintes características:

  • Achatamento póstero-lateral da cabeça de um dos lados;
  • Rotação preferencial da cabeça para o mesmo lado, quer quando dorme, quer quando está acordado;
  • A orelha do lado achatado é mais anterior;
  • Proeminência da testa do lado da plagiocefalia;
  • Proeminência posterior da cabeça do lado oposto ao achatamento;
  • Preferência por amamentar para um dos lados;
  • Diminuição da mobilidade cervical com dificuldade em virar a cabeça para um dos lados (pode indiciar torcicolo e ser a causa ou a consequência da PP).

Alterações Faciais:

  • Apresenta um olho mais fechado
  • Bochecha mais “cheia” do lado da plagiocefalia
  • Assimetria da mandibula

Se detetar alguma destas alterações, deve procurar um fisioterapeuta pediátrico e/ou pediatra o mais precocemente possível (principalmente se à plagiocefalia estiver associado um torcicolo).

Uma abordagem de “esperar para ver” ou “isso é normal” (muitas vezes emitida por alguns profissionais de saúde), nesta situação, não deve ser aceite. Os pais devem insistir na referência para avaliação e tratamento de forma a corrigir alguns problemas já existentes (nomeadamente se existir torcicolo) e prevenir o agravamento da situação, evitando consequências maiores a longo prazo. De relembrar que a janela de oportunidade é até aos 4/6 meses, uma vez que o crânio fica menos flexível após esse período. É evidente que a intervenção poderá acontecer depois, mas será menos eficaz e mais morosa.

CONSEQUÊNCIAS OU CORRELAÇÕES IMPORTANTES DECORRENTES DA PLAGIOCEFALIA

Vista até alguns anos como sendo uma condição predominantemente estética, estudos científicos atuais correlacionam (não há causa-efeito, mas sim relação) a plagiocefalia com outros problemas clínicos.

São eles: Maior risco de atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo; Alterações Visuais; Má-oclusão dentária; Alterações da linguagem; Alterações auditivas e de equilíbrio; Alterações posturais, nomeadamente escoliose.

COMO PREVENIR?

Seria importante que a avaliação da mobilidade cervical e da forma do crânio fossem uma rotina na observação dos recém-nascidos, de forma que os pais pudessem implementar posicionamentos e formas de estimulação mais adequadas a cada bebé, prevenindo, assim o aparecimento de alterações posturais e plagiocefalia.

Como prevenir é o melhor remédio e prevenir nas crianças é também prevenir problemas quando adultos, seguem-se alguns conselhos do fisioterapeuta para a prevenção da plagiocefalia:

  • Alterne a posição da cabeça do bebé durante o dia para prevenir as pressões mantidas a mesma zona (principalmente até aos 2 meses);
  • Limite o tempo que o bebé passa nos equipamentos (ovinho, carrinho de transporte, espreguiçadeiras) para apenas quando é necessário transportá-lo para qualquer lado.
  • Aumente o tempo que o bebé passa de barriga para baixo, quando acordado (sempre vigiado). Pode começar logo após o nascimento, aproveitando para o fazer quando muda a fralda e vai aumentando o tempo à medida que o bebé cresce. Estar de barriga para baixo promove e mantem uma forma simétrica do crânio, estimula os músculos do pescoço, tronco e braços, estimula a coordenação e o desenvolvimento visual;
  • Mude a posição do berço de forma que o bebé olhe para o lado oposto ao achatamento;
  • Mude a posição da cabeceira do berço a cada semana;
  • Ofereça estímulos visuais à criança em todos as direções, reforçando-os para o lado contrário ao achatamento;
  • Caso o bebé faça biberão, alterne a posição, evitando fazê-lo sempre para o mesmo lado;

  • Transporte o seu bebé ao colo ou num porta-bebés por alguns períodos do dia, em vez de o colocar na espreguiçadeira ou outro equipamento. Isso retira a pressão sobre a cabeça;

  • Vigie a posição dos braços do bebé, estimulando a que os coloque ao lado do tronco, com as mãos para a frente, e não em “posição de aviador”, assegurando que o bebé tenha oportunidade de brincar e interagir com os brinquedos à frente e ao lado;

TRATAMENTO

O melhor tratamento para a plagiocefalia posicional é a PREVENÇÃO.

Se o bebé já apresenta uma PLAGIOCEFALIA e/ou TORCICOLO, o tratamento passará pelas medidas utilizadas para a prevenção, já referidas, que minimizarão a sua progressão, bem como pela fisioterapia, que desempenha um papel fundamental nesta condição. A estimulação do Desenvolvimento Motor Normal, a Estimulação Vestibular e a Terapia Manual, para corrigir tensões e alterações da mobilidade a nível cervical, são algumas das opções de tratamento para esta situação.

CAPACETE

Nos casos mais severos de plagiocefalia, com deformidades graves, poderá ser indicado o uso de capacete. Trata-se de uma ortótese craniana dinâmica. O capacete vai agir com uma contraposição de forças. Realiza um apoio nas áreas proeminentes, contendo a sua progressão e o seu crescimento, deixando as áreas achatadas livres para crescerem, redirecionando o próprio crescimento do crânio do bebé.

LEMBRE-SE… PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR.

Uma intervenção precoce nestas situações torna o prognóstico mais favorável!

by Fátima Pereira, Fisioterapeuta.

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