A motricidade orofacial é a área da terapia da fala que se dedica ao estudo dos músculos dos lábios, língua, bochechas, face e suas respetivas funções, desenvolvendo um trabalho de avaliação, prevenção e intervenção junto de crianças com comprometimento das funções estomatognáticas (alterações na respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala).
Desde o nascimento até aos 12 meses de idade, a função motora oral vai-se desenvolvendo naturalmente e são várias as estruturas anatómicas usadas na função motora oral, para além de alguns nervos cranianos. Na cavidade oral, estas estruturas são responsáveis pelo processo de transporte de alimentos e ar, contemplando também funções como a sucção, mastigação e movimento da língua na preparação do alimento, sendo o processo de deglutição um processo complexo de sequências neuromusculares bem coordenadas.
O desenvolvimento motor oral acompanha o desenvolvimento motor global e quando se verifica uma boa coordenação tem diretamente um impacto positivo na língua e na manipulação da preparação de sólidos para a deglutição que ocorre por volta ou a partir dos 6 meses. É nessa altura, que a criança adquire um conjunto de competências, desde o controlo da língua à função de morder, conseguindo manter o alimento na boca durante algum tempo. Numa fase inicial a criança terá que aprender a morder e mastigar o alimento, daí ser comum passar por um período de adaptação no qual a criança perde o alimento da boca, no entanto, quando os músculos da cavidade oral estiverem coordenados, a deglutição será adequada. Se a criança fizer aleitamento materno é um preditor muito importante, uma vez que é no seio materno que o recém nascido aprende a coordenar o padrão de sucção e a respiração, mobilidade da língua e desenvolvimento do tónus muscular, e quando a sucção é realizada no peito da mãe torna-se um estímulo essencial para o desenvolvimento crânio facial e para o futuro desenvolvimento de outras funções necessárias para a produção de alguns sons da fala e linguagem.
Todos os músculos externos são extremamente importantes para o desenvolvimento das estruturas que envolvem funções da deglutição, respiração, amamentação e mastigação, sendo a mastigação uma das funções vitais do sistema estomatognático em que os seus movimentos precisos e coordenados são fundamentais para a articulação e produção da fala.
Dificuldades na alimentação podem levar a diversos problemas de saúde, aprendizagem e sociais, tendo o terapeuta da fala um papel fundamental de intervenção para ajudar a ultrapassar tais alterações e dificuldades de alimentação e deglutição que consequentemente geram repercussões ao nível da fala.
by Filipa Mendão, Terapeuta da Fala